5 de outubro de 2009

Um dia Cavalgaremos sem cela

Desejamos, como Paulo, ser revestidos e não despojados: não queremos descobrir o informe “Todo Lugar e Nenhum Lugar”, mas sim a terra prometida.

Você pergunta agora: isso faz diferença? Tais idéias não nos excitam e distraem apenas das coisas mais imediatas e mais certas, o amor de Deus e de nosso próximo, o levar diário da cruz? Se você descobrir que o perturbam muito, não pense mais nelas. Devo admitir plenamente que é mais importante para mim e para você hoje ouvir novamente uma zombaria ou estender um pensamento caridoso a um inimigo do que conhecer tudo o que os anjos e arcanjos sabem sobre os mistérios da Nova Criação.

A idéia por trás de toda esta espiritualidade negativa é algo realmente proibido aos cristãos. Dentre todos os homens, justamente eles não devem conceber a alegria e valor espirituais como coisas que precisam ser resgatadas e ternamente protegidas do tempo, lugar, matéria e sentidos. O seu Deus é o Deus do trigo, do óleo e do vinho. Ele é o alegre Criador, que se tornou Ele mesmo encarnado. Os sacramentos foram instituídos. Certos dons espirituais só nos são oferecidos sob a condição de realizarmos certos atos corporais. Depois disso não podemos ter, na verdade, dúvidas quanto às suas intenções. Recuar de tudo que pode ser chamado de natureza, para dentro da espiritualidade negativa, é como se fugíssemos dos cavalos em vez de aprender a montar. Em nossa presente condição de peregrinos existe espaço suficiente (mais espaço do que a maioria de nós aprecia) para a abstinência e a renúncia, assim como a mortificação de nossos desejos naturais. Mas, por trás de todo ascetismo a idéia deve ser: “Quem irá confiar-nos a verdadeira riqueza se não formos fiéis nem mesmo com a riqueza que perece?” Quem me confiará um corpo espiritual se não posso controlar sequer um corpo terreno? Esses corpos pequenos e perecíveis que temos agora, nos foram dados como os pôneis são dados aos meninos. Devemos aprender a manejá-los, não porque venhamos algum dia a ficar de todo livres dos cavalos, mas para que possamos algum dia montar sem sela, confiantes e alegres, aquelas montarias maiores, aqueles cavalos alados, brilhantes, que fazem tremer o mundo, que talvez mesmo agora nos esperem com impaciência, escarvando e resfolegando nos estábulos do Rei. Embora esse galope não valesse coisa alguma a não ser que fosse um galope com o Rei.

Extraído do livro Milagres de C.S Lewis.

Um comentário:

Anônimo disse...

Não conhecia muito sobre C.S Lewis.
só conhecia ele mesmo pelas Cronicas de Narnia. Agora, lendo os posts que fui pesquisar a biografia dele. Gostei muito desses exemplos que ele dá, muito bom.